Cristovam Buarque, Roberto S. Bartholo Jr. y Marcel Bursztyn

Instituto para a Governança (Institute for Governance)

rede cooperativa inter-universitária sul-sul (UNI-SOUTH) (uma proposta para o South Institute)

Brasilia, junio de 2005

 - reflexão sobre a identidade e primeiros passos para a implementação -

I. Introdução geral 

O passado recente tem a marca da unipolaridade nas relações internacionais. O fim do império soviético foi seguido de uma radical assimetria nas relações de poder, com inconteste supremacia dos EUA. Este cenário foi introduzido pelo triunfo ideológico-doutrinário do liberalismo, com a etiqueta atualizada de neoliberalismo. Esse quadro trouxe conseqüências bastante graves para a já frágil governança nos países periféricos.

A desregulamentação, as privatizações e o enfraquecimento das organizações sindicais trabalhistas foram acompanhados de notável precarização (que em alguns casos mais graves pode chegar mesmo a uma radical incapacidade) das instituições de governo para gerirem a coisa pública. Em países onde o legado colonial engendrou frágil equilíbrio institucional, as políticas desregulamentadoras promovidas nesse período visavam afirmar uma supremacia de uma racionalidade econômica fundada no individualismo possessivo em meio a contextos sócio-culturais onde premissas básicas para tal afirmação eram em boa medida inexistentes. A ideologia liberal se transforma assim num verniz retórico superficial, que cobre de forma tênue o florescimento de praticas viciosas (clientelismos, corrupção e patrimonialismo). O já frágil papel de providência exercido pelo Estado passa a ser atribuído à mão invisível do mercado. Ao mau-Estado emerge como alternativa o não-Estado, no lugar de um bom-Estado.

O livre-jogo das forças de mercado que se pretende afirmar como elemento propulsor da prosperidade e do bem comum se configura então como uma retórica ilusória e culposa: a retórica da incapacidade de efetivar os argumentos angulares de seu próprio discurso: sem promoção da prosperidade e elevação da riqueza, não há ampliação de quaisquer das liberdades substantivas de que fala Amartya Sen.

Mas isso não impede a consolidação do mercado como forma institucional chave de condicionamento da vida das comunidades, ainda que muitas vezes de forma marcadamente espúria, associada com atividades viciosas (corrupção, crime organizado, tráfico de drogas,  gente e armas). Resulta disso um contexto conflitivo, marcado pela ressurgência (muitas vezes violenta) de elementos identitários tradicionais reprimidos como suporte motivacional ao engajamento da ação política no combate às ilusões destrutivas de um “falso progresso”.

Em sincronia com esse quadro de ruptura do tecido social na periferia, emerge nos países centrais uma nova ordenação da atividade diretamente produtiva (bem como da provisão logística necessária à sua operação) que abre para iniciativa privada horizontes de atuação novos, até então fora de seu alcance ou interesse. Surgem assim “novas parcerias”, viabilizadoras de alocações de recursos para iniciativas de interesse social. O chamado "terceiro setor" ganha crescente importância estratégica, atuando a partir da identificação de espaços de interface e interesse comum entre o econômico e o social, entre o privado e o público. O processo se apóia no vetor dinâmico de grandes transformações tecno-científicas. A formação educacional continuada e a qualificação empreendedora são o fundamento de uma capacidade gerencial que tem na gestão do conhecimento elemento estratégico fundamental.

As atividades produtivas em sentido estrito como as iniciativas de interesse social sendo crescentemente impregnadas de alta densidade científico-tecnológica, ganha grande destaque o lugar de uma instituição como a Universidade tanto na organização da cultura da modernidade contemporânea como na formulação e implementação de projetos de desenvolvimento. A produção e disseminação de um saber criativo crítico e transformador é condição de possibilidade para a ampliação das liberdades substantivas na modernidade contemporânea. Isso implica também reconhecer crescente importância estratégica para atividades qualificadas de extensão universitária, aptas a oferecer à sociedade novos padrões de produção, gestão e avaliação de iniciativas de interesse social. E tarefa crucial nesse contexto é a determinação dialógica (não impositiva e tecnocrática) de parâmetros de eficiência, avaliação e acompanhamento para projetos e programas sociais. A operacionalização de tal propósito requer um tipo singular de gestores, sintonizados com a efetividade dos propósitos, mas ao mesmo tempo sensíveis à moldura sócio-cultural e institucional que serve de contexto.

Uma questão de imediato interesse é, portanto, o perfil desejável de gestores de iniciativas sociais. Traçar tal perfil implica o reconhecimento de que não pode haver dissociação entre as dimensões técnica e ética de sua formação, como condição de possibilidade do exercício de um juízo crítico capaz de questionar o sentido das intervenções transformadoras da realidade e contribuir para lhes estabelecer limites ético-valorativos. Desconhecer isso pode favorecer perpetuação de estruturas sociais excludentes e injustas, onde grupos privilegiados imponham padrões institucionalizados a partir de uma visão discriminatória e antidemocrática, exercendo controle discricionário sobre comunidades de maior fragilidade, apartando-as do exercício efetivo da cidadania. O gestor de iniciativas sociais deve estar em sintonia com a modernidade ética, diferentemente dos gestores de iniciativas apenas econômicas, que são formados sob o paradigma da modernidade técnica.

Questão central nesse contexto são as situações de vulnerabilidade social, que desapropriam as pessoas de suas capacidades de satisfação das suas necessidades vitais ou do acesso a recursos que lhe ofereçam uma vida digna, engendrando condições miseráveis de existência. Num plano mais geral, a vulnerabilidade se expressa como a precarização ou inviabilidade do exercício da alteridade, com ruptura ou comprometimento dos laços sociais de solidariedade. As diversas dimensões da privação (econômica, social, política, cultural etc.) se retro-alimentam e reforçam a inviabilização do exercício de liberdades substantivas, num processo onde satisfazer necessidades vitais não constitui meramente um fato biológico, pois as relações econômicas estão assentadas sobre o fato dos seres humanos terem como condição de existência que prolongar o metabolismo na cultura.

O exercício autêntico da alteridade exige que a responsabilidade esteja enraizada na vida vivida das relações inter-pessoais. Não se trata portanto de uma questão que se deixe restringir ao âmbito da correção conceitual. Para além desse requisito se afirma o apelo vivido no conhecimento íntimo de uma situação dada. E isso requer primordialmente uma atitude de escuta, de acolhimento do outro. A resposta a esse apelo é primordialmente ética. Mas se apóia em recursos técnicos diversos, as tecnologias da sustentabilidade, um acervo de conhecimentos e habilidades de ação para a implementação de processos tecnicamente viáveis e eticamente desejáveis, e que dizem respeito tanto a processos de produção e circulação do produto, como a modos de organização social, padrões de ganho e processamento de informações etc. Podemos, em síntese, afirmar que no cerne da questão está a afirmação de uma atitude que se vale das tecnologias da sustentabilidade no enfrentamento das carências sociais.

II. Escopo da rede cooperativa inter-universitária   sul-sul 

As universidades dos países periféricos estão colocadas diante  de dois desafios de urgente e difícil resposta. O primeiro deles é o risco do desenraizamento cultural, transformando-se perante seu contexto de origem em instituições consulares, do sistema transnacional de dominação. O segundo deles é sua dificuldade de encontrar resposta para a acelerada mudança de horizontes profissionais no mundo contemporâneo, com a emergência de novos campos de atividade e o sucateamento de diversas profissões antigas e  até bem pouco tempo muito prestigiadas, profissões. A incapacidade de encontrar resposta para esses dois desafios implica transformar essas universidades em centros de formação anacrônicos, disseminadores de frustrações principalmente em meio aos jovens e incapazes de propor cursos de ação efetivos para a superação do grave quadro contemporâneo de exclusão social. A Universidade da periferia padece duplamente: nem sequer chegou a consolidar um padrão estável de formação no sentido tradicional e, por outro lado, enfrenta o desafio da obsolescência de tal padrão.

Uma rede cooperativa inter-universitária sul-sul deve ter como foco de preocupação principal o enfrentamento desses dois riscos, o que implica um conjunto de questões a considerar:

1.                        A rede cooperativa inter-universitária sul-sul deve ser uma forma institucional inovadora, não apenas mais uma universidade como as atualmente existentes nos países da periferia. Isso implica não se preocupar com o reconhecimento de seus eventuais certificados como diplomas universitários. Realizar atividades de aprendizagem vinculadas à rede cooperativa universitária sul-sul deve ser algo intrinsecamente valioso e capaz de ser traduzido em novos espaços de experiência, horizontes de expectativas e capacidades de intervenção sobre a realidade periférica.  O empenho por reconhecer diplomas desvia do foco da questão e aprisiona a inovação transformadora em camisa de força burocrática.

2.                        O foco prioritário das atividades da rede cooperativa inter-universitária sul-sul serão atividades qualificadas de extensão. Haverá retro-alimentarão entre as atividades de extensão, pesquisa e ensino, mas isso não poderá significar perda do foco prioritário. Isso implica considerar que a avaliação do impacto das atividades da rede cooperativa inter-universitária sul-sul deverá priorizar os efeitos positivos de intervenções sobre a realidade periférica.

3.                         Em coerência com a premissa (2) a rede cooperativa inter-universitária sul-sul não articulará exclusivamente atores universitários. Ela buscará promover parcerias entre atores universitários e não-universitários na efetiva implementação de atividades qualificadas de extensão.

4.                        A qualificação das atividades de extensão por parte da rede cooperativa inter-universitária sul-sul terá como prioridade promover parcerias entre atores universitários e não-universitários de diferentes países periféricos em consórcios com vistas a implementar programas e projetos de extensão universitária que sejam de interesse social e tenham como foco a expansão de liberdades substantivas e a inclusão social de comunidades periféricas. Igualmente prioritária será o empenho por intensificar a introdução de recursos tecnológicos informacionais na efetivação de tais parcerias, programas e projetos. Deve ser, no entanto, destacado que nenhuma das duas prioridades terá caráter exclusivo ou excludente. Ou seja, tanto será possível, em caráter subsidiário, a participação de atores universitários e não-universitários dos países centrais na rede cooperativa, como também a utilização de técnicas de apoio não associadas ao contemporâneo desenvolvimento das tecnologias informacionais.

5.                        Vincular as políticas de educação e de ciência, tecnologia e inovação no quadro de um projeto de desenvolvimento que seja situado e sustentável não é tarefa fácil no contexto da modernidade contemporânea. Vive-se uma espiral cumulativa de inovações científico-tecnológicas com uma inédita aceleração e pela imbricação desses saberes em relações de poder radicalmente assimétricas, sob égide norte-americana. A moderna esfinge contemporânea é a velha verdade proclamada por Francis Bacon nos primórdios da Revolução Industrial: saber é poder. Estar à altura de responder ao desafio requer a capacidade de estabelecer prioridades nas áreas de conhecimento. Tanto no que diz respeito à geração de conhecimentos e formação de recursos humanos qualificados, como também na difusão do conhecimento disponível pelo tecido social.

6.                        O mundo contemporâneo passa por uma grande transformação em seu vetor científico-tecnológico. Os projetos nacionais de desenvolvimento situado e sustentável devem formular opções estratégicas que considerem essas transformações. Isso implica não priorizar formações profissionais em processo de sucateamento e promover novos horizontes profissionais.

7.                        Para as comunidades periféricas, essa priorização implica a necessidade de enraizar a formação educacional e o desenvolvimento da ciência e tecnologia em duas pedras angulares das atividades educacionais:

a.    a promoção da autonomia epistemológica, ou seja, a capacidade de dizer quais seus próprios problemas, e

 b. o fortalecimento da governança, ou seja, a capacidade de articular respostas e implementar cursos de ação de interesse social.

8.                        Embora o triunfo político-ideológico do neoliberalismo seja compatível com o consenso de identificar na escola o lugar inclusivo por excelência, esse mesmo triunfo co-habita nos países periféricos com a exclusão social de grandes contingentes da população. O consenso em questão identifica na educação do trabalhador periférico a condição sine qua non para a competitividade num mundo de negócios globalizado, cuja base tecnológica está em acelerada transformação, em convergência com proposições de organismos internacionais como o FMI, o BID, o BIRD e a OIT.

9.                        É assim que a formação polivalente e “valorização do trabalhador” são os novos argumentos da retórica do capital humano (rejuvenescido e com uma face mais social nas contemporâneas teorias do capital intelectual). Nesse movimento, o mundo dos negócios posiciona-se em defesa da escola básica, reconhecendo nela um dever fundamental do Estado. Mas ao mesmo tempo aprofunda a crítica à ineficiência da escola pública e apresenta um elenco de propostas de colaboração com o poder público para implementar a educação demandada pelas empresas. Essa apologia da educação formadora do cidadão trabalhador polivalente, participativo, flexível e apto ao exercício da abstração, da decisão e do trabalho em equipe está enraizada num novo padrão produtivo-industrial, que diminui a necessidade quantitativa do trabalho vivo, aumentando sua necessidade qualitativa.

10.                   Diante do quadro crítico de exclusão e marginalidade, um compromisso fundamental da política educacional na periferia deve ser a radical democratização das possibilidades de acesso, combatendo as estruturas viciosas  que perpetuam condições sistêmicas  profundamente injustas de ingresso à instituição universitária.

11.                   O compromisso anteriormente mencionado tem para a reforma educacional dos países periféricos dupla face:

a.    o empenho por assegurar prioridade à formação dos formadores, visando a melhoria da qualidade de ensino. Uma tarefa gigantesca e quase insolúvel, sem haver alguma revisão dos tempos de formação e das tecnologias de aprendizagem, em particular o ensino a distância, mediado por computador e ambientes virtuais de aprendizagem. Seu primeiro passo é o resgate completo do professor básico, com a conscientização da sociedade para a dignidade de sua missão e a efetiva valorização desses profissionais, tanto em termos salariais como em termos de sua formação e avaliação continuadas.

b.    a possibilidade de rever o modo de operar de processos seletivos de ingresso universitário, com destaque para a Avaliação Seriada, que escolhe os alunos com base no desempenho ao longo de um ensino médio de qualidade.

11. Com respeito aos programas, projetos e ações da rede cooperativa inter-universitária sul-sul quatro priorizações deverão ser feitas. Deve ser ressaltado que essas priorizações possuem interseção não vazia entre si, e que projetos que maximizem efeitos multiplicadores nessa região de interseção serão mais positivamente avaliados, com referência aos critérios da rede sul-sul. As priorizações em questão são:

a. programas, projetos e ações visando potencializar a formação de formadores,

b. programas, projetos e ações visando potencializar a formação de gestores de iniciativas e interesse social,

c. programas, projetos e a ações visando potencializar a promoção do empreendedorismo de interesse social.

d. programas, projetos e ações visando potencializar a capacidade dos gestores públicos em cumprir seu papel, em consonância não com o simples ato mecânico de governar, mas sim com projetos nacionais e estratégias de futuro concertadas (governança).

12. As atividades da rede cooperativa universitária sul-sul deverão estar prioritariamente voltadas para apoiar o desenvolvimento de  projetos de intervenção (com ênfase na aplicação de metodologias de pesquisa-ação) e cursos de capacitação e formação profissional. O desenvolvimento de um saber fazer próprio ao contexto dos países periféricos é um marco de referência fundamental. E a transferência/socialização de aquisições de sucesso em matéria de iniciativas de interesse social é foco essencial. O modus operandi prioritário desse apoio vai priorizar a ação induzida por editais universais lançados anualmente com vistas a convocar a formação de consórcios que se comprometam com a realização de intervenções em temas-problemas prioritários. Mas ao lado dessa prioritária ação induzida haverá um espaço secundário para uma atuação do tipo balcão, visando atender demandas e propostas compatíveis com a identidade da rede e positivamente avaliadas. Além dessa ação direta no fomento, a rede cooperativa universitária sul-sul também atuará como:

i.Uma instância de certificação e avaliação de atividades qualificadas de extensão. Para essa qualificação a rede desenvolverá metodologia e critérios específicos.

                                          ii.      Uma câmara de promoção da socialização de práticas, no espírito de um banco aberto de experiências exitosas de solução de problemas-tipo.

13. A constituição da rede cooperativa inter-universitária sul-sul deve estar em consonância com a visão atual da educação como processo e não como episódio isolado e único. No mundo contemporâneo, a velocidade da produção de novos conhecimentos e instrumentos de aprendizado, paralelamente à crescente perecibilidade de certas formações demandam práticas sistemáticas e recorrentes de atualização de competências. O conceito de life-long learning (LLL) constitui referência essencial que, por um lado, sinaliza para o caráter contínuo dos processos de formação e, por outro, determina o imperativo de que cada evento de capacitação seja objetivamente limitado a conteúdos essenciais. 

III. Projeto Piloto

A rede cooperativa inter-universitária sul-sul iniciará suas atividades com um projeto piloto voltado a promover a formação de Empreendedores de Interesse Social) , através de uma articulação de parcerias entre Brasil, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Leste. O projeto piloto tem por público-alvo estudantes e professores do ensino médio e universitário, profissionais ligados ao setor público e organizações não governamentais envolvidas em iniciativas de interesse social dos referidos países e visando o desenvolvimento do comportamento empreendedor, associado a competências técnicas indispensáveis, para a efetivação de ações que propiciem transformações sociais relevantes e positivas em suas comunidades.

Entendendo que o desenvolvimento tem uma dimensão meta-econômica, o empreendedorismo de interesse social extrapola a perspectiva comum do empreendedorismo para geração de trabalho e renda, ao abranger as mais diversas possibilidades de atuação no seu próprio espaço de convivência social e pública. Nesse sentido, pode contemplar ações que não necessariamente impliquem a dimensão econômica como foco principal. Atividades voltadas à esfera cultural, artística e de entretenimento, à promoção de diversas formas de associativismo, à provisão de serviços comunitários de interesse social com repercussão direta sobre as codições de trabalho doméstico (como creches).serão também contempladas. 

A formação de empreendedores de interesse social é pensada como uma possibilidade de descobrir potencialidades latentes nas situações cotidianas para o enfrentamento de problemas e/ou proposição de novas iniciativas identificadas pelos atores envolvidos, a partir da sua própria realidade.  A palavra interesse afirma a valoração da pessoa, da identidade cultural, dos desejos e necessidades dos atores envolvidos em uma ação cujo empenho e dedicação visam obter resultados sociais.

Neste sentido, o programa pretende fornecer subsídios para que os atores tenham condições de propor iniciativas transformadoras de interesse social, com base numa formação que considere a compreensão do próprio contexto, o desenvolvimento de habilidades comportamentais do empreendedor, e a utilização de técnicas e tecnologias que auxiliem a identificação, organização, implementação e monitoramento das novas iniciativas.  O programa será voltado para a formação pessoal empreendedora através de um processo organizado em oficinas de aprendizagem, que integram a contextualização, a instrução instrumental e a implementação e acompanhamento de iniciativas e projetos de interesse social.

Os principais protagonistas brasileiros da rede serão o Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (doravante designado CDS) e o Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ (doravante designado LTDS).

O CDS foi criado em 1995, com o objetivo de servir de base institucional para a formação de recursos humanos em nível de pós-graduação em desenvolvimento sustentável. A estrutura de suas atividades, que envolvem também pesquisa e extensão, é interdisciplinar. Com foco em políticas publicas, vem tratando de vários temas associados à implantação de práticas voltadas à inclusão social e à promoção de processos que assegurem a melhoria do bem-estar de comunidades. A experiência em gestão de conflitos socioambientais e em avaliação de programas governamentais sintonizados com o desenvolvimento sustentável, mediante processos participativos, tem servido de referência ao desenvolvimento de estudos não apenas na dimensão social, mas também em procesos tecnológicos, como é o caso de fontes alternativas de energia para comunidades isoladas. 

As atividades do LTDS na linha de pesquisa de Gestão de Iniciativas Sociais, iniciaram-se com o Fórum COPPE de Tecnologia e Desenvolvimento Social, em março de 1994, quando a COPPE se agregou à “Ação da cidadania contra a Miséria e pela Vida”. Neste Fórum, ocorreram debates com organizações do setor público e privado, visando destacar ações relativas ao desenvolvimento regional e à geração de emprego e renda no Estado do Rio de Janeiro. Essas discussões deram suporte a criação do LTDS, que desde 1998 mantém importante parceria com o SESI/DN – Departamento Nacional do Serviço Social da Indústria  órgão vinculado à Confederação Nacional da Indústria (CNI) tendo realizado diversos cursos de Especialização e Extensão na área de gestão de iniciativas sociais e responsabilidade social empresarial, abrangendo conteúdos como planejamento estratégico para a gestão social, projetos de gestão social e articulação e gestão social.

O projeto piloto proposto visará como objetivo geral  a formação na Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Leste de uma turma de até 100 empreendedores de interesse social, aptos a atuarem como agentes transformadores de sua realidade contextual, valorizando a experiência vivencial individual e coletiva, de modo a potencializar a descoberta de novas oportunidades sociais em seu espaço de convivência, contribuindo para o desenvolvimento comunitário e para a multiplicação de iniciativas positivas. Seus objetivos específicos serão dar condições para que os atores sociais sejam aptos a: i. analisar os contextos locais; ii. conceber, implementar e monitorar projetos de interesse social voltados para realidade local; e iii. apropriar-se das principais ferramentas de informática para elaboração e acompanhamento de projetos; iv. usufruir da possibilidade de socialização de experiências exitosas em matéria de iniciativas de interesse social, seja ao nível de ações comunitárias, seja mediante políticas públicas de maior alcance.

As oficinas pedagógicas de formação de empreendedores de interesse social terão como enfoque central a apresentação de métodos e instrumentos próprios ao planejamento para a implementação de iniciativas de interesse social, conjugado com a reflexão ético-valorativa da prática social e da cidadania, bem como com o desenvolvimento de características pessoais empreendedoras associadas à utilização de ferramentas de informática que auxiliem as etapas de elaboração, monitoramento e avaliação de projetos.

As atividades previstas para os alunos serão principalmente baseadas no aprendizado vivencial, por meio de técnicas de pesquisa-ação, dinâmica e trabalhos em grupo. Serão utilizadas ferramentas de ensino extraídas de metodologias participativas que terão ênfase no aprendizado por ação, onde os participantes poderão vivenciar todas as etapas de elaboração de projetos. Como suporte a esta atividade, será utilizado o material próprio de elaboração, monitoramento e avaliação de projetos, além de vídeos educativos. Também integrarão tais atividades pedagógicas a realização de oficinas de criatividade visando estimular e aprimorar a capacidade pessoal de formular idéias originais.

O conteúdo programático das oficinas pedagógicas de formação de empreendedores de interesse social será estruturado nos seguintes módulos:

Modulo I: Oficina de  Formação Contextual

-    Aborda questões sobre a globalização, o contexto histórico e social originário dos participantes e a realidade local/institucional (partindo do conhecimento empírico dos participantes).

-       Procura estimular uma postura reflexiva sobre a própria realidade e o seu papel enquanto agente de transformação social.

Módulo II -  Oficina de Formação Empreendedora

-       Trabalha o aspecto comportamental do empreendedor de interesse social, procurando desenvolver habilidades que o conduzam a uma postura ativa na proposição de alternativas criativas para implementação de projetos.

-       Procura estimular habilidades de comunicação, busca ativa de informação, negociação e articulação de parcerias.

-       Apresenta experiências de sucesso em ações públicas de inclusão social, como bolsa-escola, micro-crédito, organização de associações, economia solidária, tecnologias apropriadas de provimento de serviços básicos (como fontes alternativas de energia para comunidades isoladas), inclusão digital, dentre outras.

Módulo III – Oficina de Formação Técnica

-       Repassa a técnica de elaboração e monitoramento de projetos, capacitando os atores sociais para a utilização destas ferramentas visando a atuação sobre a realidade local de forma organizada e sistematizada.

Módulo IV –  Oficina de Apropriação tecnológica

-       Foca a aplicação da tecnologia, objetivando a utilização das diversas ferramentas da informática para pesquisa e organização de informações que auxiliem a elaboração de projeto, a descrição do próprio projeto e o acompanhamento das atividades propostas.

Cada ciclo de capacitação tem duração de  9 (nove) meses ou  36 (trinta e seis) semanas, com a carga didática estimada para ter a seguinte distribuição: Metade desta carga será dedicada ao módulo de Apropriação Tecnológica, que percorrerá todo o curso. A outra metade será dedicada aos outros módulos. As quatro últimas semanas serão dedicadas  à feitura, finalização e apresentação dos projetos finais dos alunos. O quadro a seguir descreve essa estrutura: 

Módulos

Duração (meses)

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Formação Contextual

 

 

 

 

 

 

 

Formação Empreendedora

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Formação Técnica

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apropriação Tecnológica

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Programa tem por meta a realização de  uma turma piloto, integrada por até 100 participantes. As atividades deverão ter início em novembro de 2005. A duração das oficinas pedagógicas do projeto-piloto deverá ser de um ano. Ao final do primeiro semestre posterior ao período de formação deverá ser laborado um relatório de avaliação de impacto social do projeto.

Os produtos do Projeto Piloto serão portanto:

i. a formação de até 100 (cem) atores sociais e

ii.  a elaboração de 1 (um) relatório de avaliação de impacto social do projeto-piloto, com proposição de fórmula a ser disseminada em maior escala e abrangendo contextos além dos países de língua portuguesa, envolvendo inclusive um novo arranjo institucional.

O projeto piloto conta com facilidades de infra-estrutura disponibilizadas pelo CDS e o LTDS que trabalharão em conjunto nas atividades de coordenação, secretaria acadêmica e consultoria pedagógica. Além dessas instituições brasileiras deverá haver participação das seguintes instituições parceiras: na Guiné-Bissau (Universidade Amílcar Cabral), Cabo Verde (a designar), São Tomé e Pricipe (a designar), em Angola (a designar), em Moçambique (a designar) e no Timor-Leste (a designar).

As oficinas pedagógicas do projeto-piloto deverão ser apoiadas fortemente em recursos informacionais de aprendizagem a distância mediada por computador. Todo o material de apoio instrucional deverá ser disponibilizado via Internet.

Cada módulo deverá ser composto por:

i.  uma videoconferência temática transmitida via internet com acessibilidade e interatividade assegurada a todos participantes.

ii. um encontro presencial de três dias de duração (com oito horas diárias de atividades)  realizado nos países de origem dos participantes.

iii. um fórum temático de aprendizagem, construído com o formato de uma oficina pedagógica virtual, dirigido pelo South Institute e coordenado pela equipe do CDS e LTDS, conduzido de modo a amplamente explorar os recursos informacionais da internet no apoio ao processo de aprendizagem.

Ao final da realização dos módulos deverá ser efetuada a orientação dos projetos finais dos participantes. Essa orientação deverá ser feita apoiada em recursos tecnológicos do ensino à distância mediado por computador. A apresentação dos trabalhos finais deverá ser feita na através de um evento com o formato de uma tele-conferência, com os concluintes dos diversos países de origem distribuídos em sessões temáticas.

A avaliação de impacto do projeto piloto será de responsabilidade do pessoal técnico do CDS e do LTDS. Para tanto deverá ser prevista a realização de um trabalho de campo junto aos egressos das oficinas pedagógicas a ser realizado ao final do primeiro semestre posterior à conclusão de suas formações. O relatório de avaliação de impacto será encaminhado ao South Institute em prazo não superior a seis meses da conclusão das formações efetivadas no projeto piloto. Com base nesses resultados deverão ser definidos os termos para uma eventual continuidade do projeto.

4. Custos (itens)

i. Para dar inicio às atividades e confirmar/adaptar a programação inicialmente sugerida, será necessário uma viagem aos paises selecionados, agendando-se previamente os contatos com as instituições locais identificadas como parceiras.

ii. Em seguida, uma equipe mista das duas instituições responsáveis pelo projeto piloto deverá trabalhar na montagem do “pacote” instrucional.

iii. A operacionalização do projeto piloto demandará pessoal docente e técnico-informacional, além de investimentos em material didático (aulas virtuais, apostilas eletrônicas, site e secretaria virtual, confecção de material impresso, produção de vídeos).